sexta-feira, 2 de novembro de 2012

A verdade sobre o dízimo


 "Quando acabares de separar todos os dízimos da tua colheita no ano terceiro, que é o ano dos dízimos, então os darás ao levita, ao estrangeiro, ao órfão e à viúva, para que comam dentro das tuas portas, e se fartem; E dirás perante o SENHOR teu Deus: Tirei da minha casa as coisas consagradas e as dei também ao levita, e ao estrangeiro, e ao órfão e à viúva, conforme a todos os teus mandamentos que me tens ordenado; não transgredi os teus mandamentos, nem deles me esqueci; (Deuteronômio 26:12;13).
Nossa intenção  é demonstrar, para quem quiser enxergar, que quem cobra dízimo, especialmente da forma como se faz hoje, age em seu próprio nome e interesse, ou das organizações  religiosas  a que pertençam,  uma vez que não possui nenhum respaldo bíblico ou supostamente divino para tal.

Sabemos ser essa uma questão de certa forma muito delicada, devido  ao largo uso deste instituto pelas  igrejas cristãs tradicionais,  o  que,  aos olhos dos néscios  lhe confere um caráter sacro. Certamente que apresentarão mil e um motivos para justificar a sua cobrança, pois ele,  o dízimo, é, se não a única, a principal fonte do sustento  da cúpula e de toda a hierarquia religiosa; do montante que arrecadam talvez uns  poucos trocados vão realmente para a ajuda aos necessitados. Em alguns   casos vemos sinceridade nessa aplicação; em outros,   apenas visam manter algumas   obras filantrópicas de fachada para, com elas, sensibilizar os   fiéis, para que sejam bem generosos em suas   futuras doações.   Temos consciência de que falar disso vai atrair a ira desses “sepulcros caiados”; mas a verdade precisa ser dita, doa a quem doer.
É importante deixar bem claro que a nossa exegese bíblica tem como objetivo encontrar a verdade, esteja ela onde estiver; em razão disso, fazemos nossas essas palavras do teólogo batista Donald A. Carson (1946- ),  Ph.D.  e professor de Novo Testamento, por julgá-las bem apropriadas a esse nosso estudo:
Uma abordagem cuidadosa da Bíblia capacitar-nos-á a “ouvi-la”  um pouco melhor.  É fácil demais aplicarmos ao texto   bíblico as interpretações tradicionais que recebemos de terceiros.   Então,  podemos involuntariamente   transferir a autoridade das Escrituras para nossas interpretações tradicionais, investindo-as de   um falso   e   até idólatra  grau de certeza.   Como   as tradições são   remodeladas à medida que são ultrapassadas, depois de algum tempo poderemos estar afastados da Palavra de Deus, mas assim insistindo em que todas nossas opiniões teológicas, são bíblicas e, portanto, verdadeiras.
Quando isso acontece,  se estudarmos a Bíblia de  uma forma que não seja crítica,  é  mais do que provável  que iremos simplesmente reforçar nossos erros. Se a Bíblia deve cumprir sua obra de reforma contínua – reforma  de nossas vidas e de nossa doutrina – devemos fazer tudo o que pudermos para  ouvi-la novamente e utilizar os melhores recursos que se encontram à nossa  disposição. (CARSON, D. A.  Os perigos da interpretação bíblica. São Paulo: Vida Nova, 2008, p. 15-16) (grifo nosso)
Embora possamos  perceber que, na sua obra  Os perigos  da interpretação  bíblica, da qual transcrevemos esses parágrafos, Carson ainda se apresenta um pouco ortodoxo, essa sua frase, que destacamos desse seu texto, é lapidar: “se estudarmos a Bíblia de ma forma que  não seja crítica, é mais do que provável que iremos simplesmente reforçar nossos erros”.
Entretanto, os profissionais  da religião da atualidade, tendo vislumbrado  o   “filão de ouro” em que se tornou o setor religioso, estão explorando-o a fundo, inculcando ao fiel menos avisado a idéia de que a obrigação do dízimo do Antigo Testamento também foi sustentada por  Jesus, justificando essa obrigação com a seguinte passagem contida em Mateus:Mt 23,23:  “Ai de vós,  escribas  e fariseus hipócritas, que pagais o  dízimo da hortelã,  do endro e do cominho,  mas omitis as  coisas mais  importantes da lei: a justiça, a  misericórdia e a fidelidade. Importava praticar estas coisas, mas sem omitir aquelas”.
É bem oportuna a explicação  que os  tradutores  da  Bíblia de Jerusalém  nos oferecem  sobre esse passo: “O preceito  mosaico  do  dízimo que se aplicava aos produtos da terra era estendido, por exagero dos rabinos, às plantas  mais insignificantes” (p. 1735) (grifonosso), portanto, ressaltam, com essa exegese, que aqui o dízimo se trata de algo relacionado aos produtos da terra, exegese essa que ressalta o dízimo como algo relacionado aos produtos  da terra, para suprir as necessidades  básicas (alimentação) dos  religiosos,  que não tinham condições de trabalhar a terra.
E mais: encontramos, em  A Bíblia Anotada,  versão bíblica da Editora Mundo Cristão, a seguinte elucidação: dais o dízimo. Dar o dízimo de diversas ervas era uma prática baseada em Lv 27:30. Embora  o dízimo  dos grãos, frutos, vinho  e azeite  fosse exigido (veja também Nm 18:12; Dt 14:22-23), os escribas haviam aumentado a lista dos itens dos quais se exigia o dízimo de modo a incluir as ervas mais insignificantes”. (A Bíblia Anotada, p. 1220) (grifo nosso).
Confirma-se, portanto, a afirmação anterior de que o  dízimo se aplicava sobre os produtos da terra, em estado natural ou processados, como é o caso do vinho e do azeite.
Nessa versão bíblica,  o  mais  interessante é a explicação  que se dá para  o  final do  versículo: “fazer estas cousas, sem omitir aquelas. I.  e., sem negligenciar o dízimo realmente exigido pela lei”. (A Bíblia Anotada, p. 1220). É tão claro  que essa exegese se destina a justificar  o pagamento  do  dízimo  em dinheiro,  que nem se dão   conta de que a Lei não  estabeleceu o pagamento sobre qualquer tipo de renda proveniente de labor humano, uma vez que ela contemplava apenas o resultado da ação divina sobre os produtos da terra, que os faz  crescer e produzir.
Por outro lado, se formos levar ao “pé da letra”,  a palavra de Deus, pelo que consta na passagem, a única coisa que Jesus está afirmando, é que os escribas e fariseus eram pessoas hipócritas,  que faziam mais caso  do  dízimo do  que da  moral religiosa. E como Jesus especifica o dízimo, citando o da hortelã, do endro (em algumas traduções diz-se erva-doce) e do cominho, não  se poderia estendê-lo para mais nada além desses produtos expressamente citados; mesmo porque não estava se falando de contribuição em dinheiro e sim em algo comestível.

Ml 3,8-12: “Pode um homem enganar a Deus? Pois vós me enganais! – E dizeis: em que te enganamos?  Em relação  ao dízimo e à contribuição.  Vós estais sob a maldição  e continuais a me enganar, vós todo o povo. Trazei o dízimo integral para o Tesouro, a fim de que haja alimento na minha casa.  Provai-me com isto, disse Iahweh dos Exércitos, para ver se eu não abrirei as janelas  do céu e não derramarei sobre vós bênção em abundância. Por vós, eu ameaçarei o gafanhoto, para que não destrua os frutos de vosso campo, e para que a  vinha não fique estéril no campo,  disse Iahweh dos Exércitos. Todas  as  nações vos proclamarão felizes, porque sereis uma  terra de delícias, disse Iahweh dos Exércitos”.

Pelo  relato do texto deviam não estar pagando todo o  dízimo  devido; alguma coisa sonegavam, pois, pela boca do profeta Malaquias, Deus estava lhes exigido o dízimo completo.
Na advertência do profeta Malaquias, vemos que a recomendação é de que o levassem para o templo, para que houvesse alimento, ou seja, tratavam-se de produtos do campo; inclusive, eram eles que seriam objeto de atenção de Iahweh.  Por outro lado, isso também nos remete ao estabelecido em Dt 14,22-23.
Quanto a Mt 23,23, em relação ao dízimo da hortelã, da erva-doce e do cominho, é um passo em que Jesus deixa claro que deviam seguir essa prescrição; talvez, haja a sua razão de ser; vejamos esta explicação:
Exemplo concreto  de hipocrisia, que faz  questão  de preceitos leves, como o dízimo  das plantas comestíveis e vulgares, desprezando  os preceitos graves e importantes.  A menta (hortelã,  hêdyosmon) porque aromatiza os alimentos e servia de remédio para as taquicardias (eram comidos três ovos: um com menta, um com cominho e o   terceiro com sésamo); o endro  (ánéthon), comestível   muito usado; e o   cominho  (kyminon) também empregado como tempero e remédio. No entanto, negligenciavam o   discernimento  (krísis), a misericórdia  (éleos) e a fidelidade  (pístis).   E é acrescentada a fórmula: “devíeis fazer estas coisas,  sem omitir aquelas”,  ou seja,  não  é que a primeira esteja errada: é que deve ser mantida em sua posição real,   em segundo  lugar. Em Lucas são citadas: a hortelã a arruda (péganon) planta aromática e as hortaliças em geral  (láchanon),   e,   como negligenciadas, o discernimento e o amor de Deus (agápén tou theoú). No final de Mateus há uma daquelas ironias próprias de Jesus e originais: “guias cegos’ coais um mosquito  e engolis um camelo”  (hoi díulízontes ton  kônôpa, tên dè kámêlon  katapínontes). Figura metafórica das mais felizes, para sublinhar o ensinamento dado. (PASTORINHO, 1964, p. 45) (grifo nosso).
O que concluímos é que, por serem plantas medicinais, deveriam mesmo ser entregues, para uso  oportuno.  Mas  isso está muito longe de ter  o  caráter atribuído ao dízimo  nos  dias atuais.
Champlin (1933- ) é um outro autor que nos informa coisa bem semelhante:
Eles davam o dízimo (a décima parte) da menta, que era uma planta favorita, de aroma suave, que algumas vezes medrava nos soalhos das casas de moradia e das sinagogas,   para dar seu aroma suave e assim prover uma atmosfera mais agradável. Essa planta também era usada como especiaria; enquanto que  o   aniz, o   coentro e o cominho (que   são sementes  aromáticas)  eram usadas como condimentos e, algumas vezes, como medicamentos. (CHAMPLIN, vol. 1, 2002, p. 548) (grifo nosso).
Embora mude um pouco em relação   à informação   anterior, ainda assim,   ficamos convictos de que poderiam ser mesmo usadas, quer como condimentos ou medicamentos, em  benefício do povo; não dos sacerdotes.
Conclusão:
 Acreditamos que,   se fosse para cumprir  o   que determina a Bíblia,   somente os produtores   rurais deveriam pagar  o dízimo; fora disso   é pura extrapolação,   ou melhor,  exploração.
Logo, nos dias  de hoje,  não caberia oferta do dízimo  em decorrência do exercício  das atividades profissionais da época atual, ainda que assemelhadas às existentes nas respectivas épocas dos  textos  bíblicos,  que não  estavam neles incluídos como,  por exemplo,  artesãos, marceneiros, comerciantes, advogados, professores, funcionários públicos, etc….
O que observamos nas lideranças religiosas, é que elas usam da dificuldade que os fiéis têm de entender os textos bíblicos, em benefício da estrutura religiosa a que pertençam, ou do seu próprio. Sabendo que a esmagadora maioria das pessoas não consegue, em muitos passos bíblicos,   uma compreensão plena,   essas   lideranças   se aproveitam disso para passar o entendimento da estrutura religiosa a que se vinculam,  que é aceito sem um mínimo de  questionamento. Com essa questão do dízimo, isso fica muito claro para nós.
 O historiador hebreu Flávio Josefo,  que viveu naquela época, disse  sobre isso:
Moisés come medo que a tribo de Levi, vendo-se isenta da guerra, só se ocupasse nas coisas necessárias para a vida e descuidasse do   serviço   de Deus,   determinou que, depois que se tivesse conquistado o país de Canaã, se dariam a essa tribo  quarenta e oito das melhores cidades de todas as terras que se encontrassem,  não  distante mais de duas milhas e,  que o povo lhe  pagaria todos os anos e aos sacrificadores a décima parte dos frutos que recolhesse, o que foi depois inviolavelmente cumprido. (JOSEFO,   2003,   p. 112). (grifo nosso).
O  que mais  nos deixou surpreso nesse relato  de Josefo é que  o dízimo era anual (Dt 24,22-23), não um pagamento que é exigido em quase toda vez que o cliente, digo, fiel for à  igreja, como  acontece atualmente.  Eis, mais  um importante testemunho que confirma, mais uma vez, que  o dízimo  não é sobre renda alguma,  mas sobre os  frutos recolhidos a cada colheita, fato   que ainda podemos confirmar em Borg e Crossan: “Os impostos locais, comumente chamados de ‘dízimos’, eram sobre a produção agrícola”   (BORG e CROSSAN, 2007, p. 34).
Certamente que vemos a necessidade de recursos para se manterem as   igrejas, visando cobrir despesas como: luz, água, funcionários, material de limpeza, aluguel,  obras  sociais, etc., que não  há como fazer, senão  pela contribuição dos que frequentam aquela denominação religiosa. Mas tudo dentro das possibilidades de cada um, sem extorsão, como, infelizmente,  vemos por aí. Quem pode dar mais  que dê,  da mesma forma que quem não puder dar nada, não se sinta obrigado a dar o que não tem.
Entretanto, como Champlin e Bentes bem perceberam, a realidade é:
Atualmente, vemos o espetáculo de missionários evangélicos que constroem para si mesmos grandes mansões, lares luxuosos, etc.
Quando isso sucede,   sabemos que  o   dinheiro   está sendo   empregado egoisticamente, e não para o serviço do Senhor. Há uma grande diferença entre o  altruísmo  e  o egoísmo; mas alguns missionários evangélicos parecem nunca ter aprendido a diferença. Direi agora o que penso sobre tudo isso.  O próprio fato  de que há crentes disputando  sobre se devem contribuir ou não  com uma miserável parcela de dez  por cento mostra  o  baixo nível de espiritualidade em que se encontram. Quanto maior for a espiritualidade de um crente, maior será a sua liberalidade para com  o dinheiro   com que contribui  para a causa do evangelho,   ou   com que alivia as necessidades das pessoas ao seu redor.(CHAMPLIN e BENTES, 1995, p. 203). (grifo nosso).
Portanto, mesmo sendo voluntárias e não obrigatórias, devemos ter bastante cautela ao fazermos  nossas doações,  para que, assim,  não fiquemos engordando  parasitas, que só  se preocupam com o seu próprio ego. Pedro já nos alertara sobre esses falsos profetas dizendo:
“Muitos seguirão suas doutrinas dissolutas e, por causa deles, o caminho da verdade cairá em  descrédito.  Por  avareza, procurarão, com discursos fingidos, fazer  de vós objeto de  negócios” (2Pe 2,2-3).
 Paulo da S. N. Sobrinho
(Fonte:Igreja de Deus ( 7º dia) no Brasil-Movimento Bíblico Congregacional)

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